Anais
Brasileiros de Dermatologia – PARTE IV
On-line version ISSN 1806-4841
An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio
de Janeiro Sept./Oct. 2008
EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA
MANIFESTAÇÕES
CUTÂNEAS
Lesões e doenças dermatológicas têm sido observadas no curso da infecção
pelo HTLV-1 desde que se estabeleceu a relação desse retrovírus com ATL e com
HAM/ TSP.17 A ocorrência de dermatoses em indivíduos infectados pelo
HTLV-1 sem doença relacionada (ATL e HAM /TSP) foi descrita.18
Embora várias classificações já tenham sido propostas para o
entendimento das manifestações cutâneas, nenhuma delas pode ser considerada
definitiva. Muitos aspectos de alterações dermatológicas possivelmente
relacionadas ao HTLV-1 não estão esclarecidos, e muitas delas carecem de
evidências para ser definitivamente associadas à infecção.6,17
Algumas proposições para seu entendimento já foram feitas. La Grenade19
as divide em três grupos: lesões relacionadas às doenças causadas pelo HTLV-1,
lesões relacionadas à imunossupressão e lesões inespecíficas. Nobre e
colaboradores17 propõem classificação que considera possíveis
mecanismos envolvidos em sua patogênese. Assim seriam: lesões diretamente
causadas por células infectadas pelo HTLV-1 na pele (neoplásicas e não
neoplásicas); lesões indiretamente causadas por células infectadas pelo HTLV-1
na pele (esse grupo inclui além das alterações por imunossupressão e por
alterações neurológicas, lesões por produção de citocinas e aquelas por outros
mecanismos indiretos) e lesões inespecíficas.
Neste artigo os autores destacam a dermatite infecciosa, cuja relação
com o HTLV-1 está estabelecida, e discutem as demais dermatoses,
relacionando-as com os quadros de doença (ATL, HAM/TSP) ou infecção
assintomática pelo HTLV-1.
DERMATITE
INFECCIOSA
A DI foi descrita na Jamaica por Sweet em 196620 e foi
definitivamente associada à infecção pelo HTLV-1 em 1990 por La Grenade e
colaboradores.5 É doença da infância que se manifesta geralmente
depois dos 18 meses, embora haja relato em lactentes mais jovens.21,22
Recentemente foram descritos os primeiros casos com início na vida adulta.23
A maior parte dos casos ocorre na Jamaica,24 no Brasil e, em menor
número, no Peru, Senegal e em Trinidad e Tobago.25, 26 No Japão,
país com elevada prevalência da infecção pelo HTLV-1, foram relatados poucos
casos da DI. Fatores genéticos ou socioeconômicos poderiam ser responsáveis por
essa observação.6, 26 No Brasil, o primeiro caso foi relatado no Rio
de Janeiro,27 mas a maior casuística é proveniente de Salvador, na
Bahia.25
A manifestação clínica é de dermatite eczematosa que compromete o couro
cabeludo, pescoço, orelha externa (especialmente as áreas retroauriculares),
axilas e virilhas.26 A localização nas fossas antecubitais e
poplíteas foi descrita.25 Lesões eritêmato-descamativas ao redor das
narinas, associadas à presença de descarga nasal fluida e crostas nas fossas
nasais anteriores são descritas. O achado de blefaroconjuntivite é freqüente.
Pápulas foliculares, lesões eritêmato-descamativas e pústulas podem ser
observadas nas áreas comprometidas. 22,26 As culturas obtidas de
material das fossas nasais anteriores ou pele são positivas para Staphylococcus
aureus e/ou estreptococos β hemolíticos. 25 Em sua
evolução são características a resposta rápida aos antibióticos e a recidiva
quando de sua suspensão. Entretanto, foram observadas recidivas esporádicas e
desaparecimento do quadro em alguns pacientes durante seu acompanhamento.25
Os critérios para o diagnóstico dessa afecção foram estabelecidos por La
Grenade e colaboradores em 199824 (Quadro 1).
O diagnóstico diferencial com outros eczemas deve ser feito,
especialmente com a dermatite atópica (DA) e dermatite seborréica (DS) (Figura 1). A DA pode ocorrer em crianças soropositivas para
o HTLV-1, e a DS já foi descrita em adultos e crianças infectados pelo HTLV-1 18,
28 (Figura 2). As lesões da DI têm morfologia e distribuição
semelhantes àquelas da DA, mas são mais exuberantes, exsudativas e fétidas,
além de mostrar infecção evidente. Crostas nas narinas, fissuras
retroauriculares e blefaroconjuntivite são encontradas na DI, e o prurido na DA
tende a ser mais intenso. 25 A DS mostra lesões com morfologia
diferente da DI, além de ser rara na infância, a não ser na forma transitória
do lactente.25 A boa resposta à sulfametoxazol- trimetoprim na DI é
outro ponto para diferenciá-la da DA e da DS.25, 26 O uso prolongado
e repetido dessa medicação é recomendado para o controle da DI.25 O
exame histopatológico exibe alterações vistas em outros eczemas, embora
elementos sugestivos de micose fungóide em placas possam ser encontrados em
alguns casos.29 Estudo de imuno-histoquímica revelou predominância
de CD8+ na pele e pequeno percentual de células com grânulos citotóxicos,
sugerindo que a maior parte dos linfócitos CD8+ não é ativada, diferente do que
ocorre na DA e na DS.29
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