terça-feira, 4 de abril de 2017

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E O HTLV - PARTE IV



On-line version ISSN 1806-4841

An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2008

EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS

Lesões e doenças dermatológicas têm sido observadas no curso da infecção pelo HTLV-1 desde que se estabeleceu a relação desse retrovírus com ATL e com HAM/ TSP.17 A ocorrência de dermatoses em indivíduos infectados pelo HTLV-1 sem doença relacionada (ATL e HAM /TSP) foi descrita.18

Embora várias classificações já tenham sido propostas para o entendimento das manifestações cutâneas, nenhuma delas pode ser considerada definitiva. Muitos aspectos de alterações dermatológicas possivelmente relacionadas ao HTLV-1 não estão esclarecidos, e muitas delas carecem de evidências para ser definitivamente associadas à infecção.6,17 Algumas proposições para seu entendimento já foram feitas. La Grenade19 as divide em três grupos: lesões relacionadas às doenças causadas pelo HTLV-1, lesões relacionadas à imunossupressão e lesões inespecíficas. Nobre e colaboradores17 propõem classificação que considera possíveis mecanismos envolvidos em sua patogênese. Assim seriam: lesões diretamente causadas por células infectadas pelo HTLV-1 na pele (neoplásicas e não neoplásicas); lesões indiretamente causadas por células infectadas pelo HTLV-1 na pele (esse grupo inclui além das alterações por imunossupressão e por alterações neurológicas, lesões por produção de citocinas e aquelas por outros mecanismos indiretos) e lesões inespecíficas.

Neste artigo os autores destacam a dermatite infecciosa, cuja relação com o HTLV-1 está estabelecida, e discutem as demais dermatoses, relacionando-as com os quadros de doença (ATL, HAM/TSP) ou infecção assintomática pelo HTLV-1.

DERMATITE INFECCIOSA

A DI foi descrita na Jamaica por Sweet em 196620 e foi definitivamente associada à infecção pelo HTLV-1 em 1990 por La Grenade e colaboradores.5 É doença da infância que se manifesta geralmente depois dos 18 meses, embora haja relato em lactentes mais jovens.21,22 Recentemente foram descritos os primeiros casos com início na vida adulta.23 A maior parte dos casos ocorre na Jamaica,24 no Brasil e, em menor número, no Peru, Senegal e em Trinidad e Tobago.25, 26 No Japão, país com elevada prevalência da infecção pelo HTLV-1, foram relatados poucos casos da DI. Fatores genéticos ou socioeconômicos poderiam ser responsáveis por essa observação.6, 26 No Brasil, o primeiro caso foi relatado no Rio de Janeiro,27 mas a maior casuística é proveniente de Salvador, na Bahia.25

A manifestação clínica é de dermatite eczematosa que compromete o couro cabeludo, pescoço, orelha externa (especialmente as áreas retroauriculares), axilas e virilhas.26 A localização nas fossas antecubitais e poplíteas foi descrita.25 Lesões eritêmato-descamativas ao redor das narinas, associadas à presença de descarga nasal fluida e crostas nas fossas nasais anteriores são descritas. O achado de blefaroconjuntivite é freqüente. Pápulas foliculares, lesões eritêmato-descamativas e pústulas podem ser observadas nas áreas comprometidas. 22,26 As culturas obtidas de material das fossas nasais anteriores ou pele são positivas para Staphylococcus aureus e/ou estreptococos β hemolíticos. 25 Em sua evolução são características a resposta rápida aos antibióticos e a recidiva quando de sua suspensão. Entretanto, foram observadas recidivas esporádicas e desaparecimento do quadro em alguns pacientes durante seu acompanhamento.25

Os critérios para o diagnóstico dessa afecção foram estabelecidos por La Grenade e colaboradores em 199824 (Quadro 1).

O diagnóstico diferencial com outros eczemas deve ser feito, especialmente com a dermatite atópica (DA) e dermatite seborréica (DS) (Figura 1). A DA pode ocorrer em crianças soropositivas para o HTLV-1, e a DS já foi descrita em adultos e crianças infectados pelo HTLV-1 18, 28 (Figura 2). As lesões da DI têm morfologia e distribuição semelhantes àquelas da DA, mas são mais exuberantes, exsudativas e fétidas, além de mostrar infecção evidente. Crostas nas narinas, fissuras retroauriculares e blefaroconjuntivite são encontradas na DI, e o prurido na DA tende a ser mais intenso. 25 A DS mostra lesões com morfologia diferente da DI, além de ser rara na infância, a não ser na forma transitória do lactente.25 A boa resposta à sulfametoxazol- trimetoprim na DI é outro ponto para diferenciá-la da DA e da DS.25, 26 O uso prolongado e repetido dessa medicação é recomendado para o controle da DI.25 O exame histopatológico exibe alterações vistas em outros eczemas, embora elementos sugestivos de micose fungóide em placas possam ser encontrados em alguns casos.29 Estudo de imuno-histoquímica revelou predominância de CD8+ na pele e pequeno percentual de células com grânulos citotóxicos, sugerindo que a maior parte dos linfócitos CD8+ não é ativada, diferente do que ocorre na DA e na DS.29
 
Contato: Carlos Soares 51 999.76.2483 - Email: htlv.pet.rs@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário