terça-feira, 25 de abril de 2017

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E O HTLV - PARTE VI



On-line version ISSN 1806-4841

An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2008

EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA

Manifestações Dermatológicas na HAM/TSP

A HAM/TSP é mielopatia grave e incapacitante, de início insidioso, que compromete o controle vesical, acarreta distúrbios sensoriais e paraparesia espástica lentamente progressiva.30 Predomina em adultos do sexo feminino, embora seja relatada em crianças e adolescentes.6, 26, 30 É relacionada com transmissão por via sexual no adulto e com carga proviral aumentada.6 O risco para desenvolvê-la ao longo da vida é estimado entre 0,3 e 4% dos infectados.7 Caracteriza-se por resposta de imunidade celular pro-inflamatória exagerada, com produção de IFN-γ e TNF-α, possivelmente aliada a condicionamento genético.7 Lesões de pele já foram descritas em associação com a HAM/TSP: xerodermia, eritema palmar e malar foram observados em pacientes japoneses.60 Os quadros de xerose cutânea são os mais freqüentemente associados à doença 61 (Figura 3). Estudo brasileiro demonstrou freqüência aumentada de dermatofitoses (onicomicose), xerose, dermatite seborréica, eritema palmar e candidíase no grupo de doentes, contudo a associação significativa foi para xerose, candidíase cutânea e eritema palmar. No mesmo estudo outras alterações descritas foram: eczema crônico, reações por drogas, fotossensibilidade, escabiose, verrugas, foliculite decalvante, eritema nodoso, vitiligo e molusco contagioso.61 Ictiose adquirida de caráter moderado a grave foi encontrada em 43% de um grupo de pacientes avaliados em outro estudo.62 Enquanto a candidíase poderia ser explicada pela perda do controle esfincteriano,61 as alterações xeróticas e a ictiose adquirida não têm seu mecanismo completamente esclarecido.17 Alterações autonômicas com redução da resposta simpática na pele são descritas nos indivíduos com HAM/TSP, mas o dano direto na pele pelo linfócito infectado poderia estar implicado na gênese da xerose.61 A ativação de queratinócitos foi demonstrada por Milagres e colaboradores,62 que admitem o papel de citocinas produzidas por linfócitos infectados nesse processo. A associação da DI com HAM/TSP já foi comentada.30 A Organização Mundial de Saúde inclui nos critérios para o diagnóstico da HAM/TSP manifestações sistêmicas não neurológicas, que podem estar associadas, e entre elas a síndrome de Sjögren, ictiose, vasculites e ATL.63

Manifestações dermatológicas em indivíduos assintomáticos soropositivos para o HTLV-1

Além das várias manifestações cutâneas observadas na ATL e na HAM/TSP, existem evidências de que lesões dermatológicas podem estar associadas à infecção pelo HTLV-1 em indivíduos assintomáticos 17, 64 (Quadro 2).
Em estudo transversal feito em candidatos à doação de sangue, Gonçalves e colaboradores 18 encontraram alterações da pele predominando significativamente no grupo de soropositivos assintomáticos para o HTLV-1 quando comparado ao grupo controle soronegativo. Dermatofitoses, dermatite seborréica e ictiose adquirida foram associadas à soropositividade (Figura 4). A detecção do provírus na lesão, utilizando- se a técnica de PCR, foi mais freqüente nos espécimes de pele com lesão do que na pele normal, controle pareado, do mesmo paciente.18 Outro estudo transversal feito em três gerações de família com alta prevalência de infecção pelo HTLV-1 demonstrou a relação entre a infecção e o achado de lesões cutâneas, especialmente as relacionadas à xerose.65

Tem sido relatado que pacientes atendidos em clínicas dermatológicas, com ênfase ou não em tratamento de doenças de transmissão sexual, têm maior prevalência da infecção pelo HTLV-1 do que a observada na população em geral.66-68 A ocorrência de DA e DS foi significativamente associada à infecção pelo HTLV-1 na Jamaica.69 A DS foi associada à alta carga proviral em crianças, enquanto a DA não mostrou tal associação.28 Posteriormente a DA foi observada em 16 crianças dessa mesma coorte, e foi relacionada a aumento da carga proviral por um ano depois do ponto de estabilização dos títulos de anticorpos, sugerindo expansão de clones de células infectadas. Os autores aventam a possibilidade de que essa expansão clonal possa ser um marcador para doença relacionada ao HTLV-1 na idade adulta.70

A associação da escabiose com a infecção pelo HIV e pelo HTLV-1 é bem conhecida.71 Em países cuja prevalência da infecção pelo HTLV-1 é alta, a escabiose crostosa (EC) é um marcador dessa infecção. A EC tem características psoriasiforme e verrrucosa nas mãos e pés, com hiperqueratose das unhas, eritema e descamação envolvendo face, couro cabeludo e tronco (Figura 5). Pode ainda estar localizada exclusivamente em face, mão, pé, pododáctilo ou região plantar. O prurido pode ser mínimo.71 As causas descritas para esse tipo de escabiose são: supressão da resposta celular T (como na infecção pelo HIV, HTLV-1, ATL e transplantados), diabetes, várias neuropatias (incluindo a hanseníase), artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico e desnutrição. Nos indivíduos sem fatores identificados para imunossupressão é possível que o quadro seja decorrente de resposta imune do tipo Th2.53 Interessante salientar que a EC tem sido relatada na HAM/TSP61,72 condição conhecida pela grande produção de citocinas pró-inflamatórias, mas que tem também títulos aumentados de anticorpos. 7 Em 78 casos de EC estudados na Austrália, observou-se aumento de IgE em 96% e eosinofilia em 58%. Nesse estudo, fatores de risco para imunossupressão estavam presentes em mais da metade dos casos, incluindo três pacientes com infecção por HTLV-1.53 Em estudo de 91 casos de escabiose na Bahia, Brites e colaboradores73 encontraram 32% dos casos associados à infecção por HTLV-1 e 20% em coinfectados por HIV/HTLV-1. Escabiose crostosa foi preditiva da co-infecção HIV/HTLV-1 e pareceu estar associada à imunodeficiência grave e ao óbito. Nenhum caso de ATL foi observado, em seguimento de dois anos. Formas graves de escabiose (mais de 80% do corpo com lesões, mas sem todas as características de EC) foram fortemente associadas com infecção por HTLV-1.73 No Peru, 23 casos de EC foram testados para HTLV-1, resultando em 69,9% de soropositividade. Dos 16 soropositivos, um caso de ATL e quatro eram infectados assintomáticos, incluindo três casos com infestações recidivantes que resultaram em dois óbitos.72 Relatos de casos de EC associados a tinhas também foram descritos em indivíduos soropositivos assintomáticos.74, 75
 As micoses superficiais podem ter sua clínica modificada pela imunossupressão não só na morfologia e extensão das lesões como também na evolução.54 Formas graves, invasivas de infecção foram descritas na ATL.54 Onicomicoses foram observadas em casos de HAM/TSP, sem associação significativa.61 As dermatofitoses foram associadas à condição de soropositividade, especialmente a tinha dos pés18, 64 (Figuras 6 e 7).

O encontro de lesões de pele em soropositivos assintomáticos pode ter relevância para o diagnóstico da infecção pelo HTLV-1 e na abordagem de lesões recidivantes ou refratárias ao tratamento convencional.64 Em um país de dimensões continentais, com grande fluxo migratório de populações e que tem áreas conhecidamente endêmicas para a infecção pelo HTLV-1, é da maior importância a atenção do dermatologista para fazer a investigação em pacientes com ictiose adquirida sem causa aparente, EC, dermatofitoses e DS atípicas ou de difícil controle, e em crianças com eczemas extensos refratários ou que tenham critérios para diagnóstico de DI.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962008000500002
Contato: Carlos Soares 51 999.76.2483(vivo) – Email: htlv.pet.rs@gmail.com

terça-feira, 18 de abril de 2017

GLIFOSATO, LEITE MATERNO E O HTLV



ÁGUA, AR E LEITE MATERNO CONTAMINADO: PESQUISA NO MT EXPÕE IMPACTO DOS AGROTÓXICOS
Publicado em: fevereiro 9, 2016
Os pesquisadores registraram pulverizações de agrotóxicos por avião e trator realizadas a menos de 10 metros de fontes de água potável, córregos, de criação de animais e de residências. (Foto: Brasileducom)

Marco Weissheimer
As pesquisas sobre o impacto do uso dos agrotóxicos no Brasil ainda são insuficientes para retratar a dimensão de problemas de saúde e ambientais que já são graves e podem piorar ainda mais nos próximos anos. Em março de 2015, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), publicou um artigo que sistematizou pesquisas sobre o potencial cancerígeno de cinco ingredientes ativos de agrotóxicos realizadas por uma equipe de pesquisadores de 11 países, incluindo o Brasil. Baseada nestas pesquisas, a agência classificou o herbicida glifosato e os inseticidas malationa e diazinona como prováveis agentes carcinogênicos para humanos e os inseticidas tetraclorvinfos e parationa como possíveis agentes carcinogênicos para humanos. Destes, a malationa, a diazinona e o glifosato são amplamente usados no Brasil. Herbicida de amplo espectro, o glifosato é o produto mais usado nas lavouras do Brasil, especialmente em áreas plantadas com soja transgênica.
A partir do levantamento publicado pela Iarc, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou uma nota oficial este ano chamando a atenção para os riscos que a exposição ao glifosato e a outras substâncias representam para a saúde dos brasileiros. Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos, o Inca cita, além do câncer, infertilidade, impotência, abortos, malformações fetais, neurotoxicidade, desregulação hormonal e efeitos sobre o sistema imunológico. O Inca e a Organização Mundial da Saúde estimam que, nos próximos cinco anos, o câncer deve ser a principal causa de mortes no Brasil.

Segundo Wanderley Pignati, pesquisador da UFMT, estudo deixou claro que a população do interior de Mato Grosso convive com a poluição por agrotóxicos que provoca doenças e danos ambientais.

UM MONITORAMENTO DURANTE 7 ANOS EM LUCAS DO RIO VERDE/MT

Defensores do uso dos agrotóxicos costumam citar a falta de comprovação científica desses danos. Se é verdade que as pesquisas no Brasil sobre esse tema ainda estão engatinhando, também é verdade que já há estudos localizados que fornecem fortes indícios sobre os riscos e doenças causadas pela contaminação com esses produtos. Uma das mais importantes e rica em dados foi realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que, entre 2007 a 2014, fizeram um trabalho de monitoramento no município de Lucas do Rio Verde (MT) para avaliar o impacto dos agrotóxicos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

Em conjunto com professores e alunos de quatro escolas, localizadas nas áreas urbana e rural, eles avaliaram componentes ambientais, humanos, animais e epidemiológicos relacionados aos riscos dos agrotóxicos. Município com mais de 37 mil habitantes, Lucas do Rio Verde produziu, em 2012, cerca de 420 mil hectares entre soja, milho e algodão e consumiu 5,1 milhões de litros de agrotóxicos, entre herbicidas, inseticidas e fungicidas, nessas lavouras.

Os dados coletados e analisados pelos pesquisadores apontaram uma série de irregularidades e fortes indícios de contaminação humana e ambiental causada pelo uso desenfreado de agrotóxicos. Somente durante o ano de 2010, foi constatada a exposição ambiental/ocupacional/alimentar de 136 litros de agrotóxicos por habitante. Os pesquisadores também registraram pulverizações de agrotóxicos por avião e trator realizadas a menos de 10 metros de fontes de água potável, córregos, de criação de animais e de residências, desrespeitando legislação estadual sobre pulverização aérea e terrestre. Foi verificada ainda a contaminação de resíduos de vários tipos de agrotóxicos em 83% dos 12 poços de água potável (nas escolas e na cidade), contaminação de 56% das amostras de chuva recolhidas no pátio das escolas e de 25% das amostras de ar, também nos pátios das escolas. Essas amostras foram monitoradas durante dois anos.

CONTAMINAÇÃO DE 100 % DAS AMOSTRAS DE LEITE MATERNO

O monitoramento realizado pelos pesquisadores da UFMT e da Fiocruz também apontou a presença de resíduos de vários tipos de agrotóxicos em 88% das amostras de sangue e urina dos professores daquelas escolas. Os níveis de resíduos nos professores que moravam e atuavam na zona rural foi o dobro do verificado nos professores que moravam e atuavam na zona urbana de Lucas do Rio Verde. Além disso, foi constatada a contaminação com resíduos de agrotóxicos (DDE, Endosulfan, Deltametrina e DDT) de 100% das amostras de leite materno de 62 mães que pariram e amamentaram em Lucas do Rio Verde no ano de 2010. Os pesquisadores também encontraram resíduos de vários tipos de agrotóxicos em sedimentos de duas lagoas examinadas.

Segundo o médico Wanderley Pignati, um dos pesquisadores que coordenou o estudo, a realidade que se vê em praticamente todos os 131 municípios de Mato Grosso é a mesma: uma grande infraestrutura logística para garantir a “saúde do agronegócio” e uma estrutura absolutamente deficitária, quando não simplesmente ausente, para monitorar o impacto do uso intensivo de agroquímicos sobre a saúde da população e o meio ambiente. A pesquisa realizada em Lucas do Rio Verde constatou que não estava implantada nos serviços de saúde do município a vigilância em saúde dos trabalhadores e nem a das populações expostas aos agrotóxicos. “Na agricultura, a vigilância se resumia ao uso ‘correto’ de agrotóxicos e ao recolhimento de embalagens vazias sem questionar onde foram parar seus conteúdos”, afirma o resumo executivo do grupo que realizou o monitoramento.

AS RECOMENDAÇÕES DOS PESQUISADORES

Na avaliação de Pignati, o estudo deixou claro que a população do interior de Mato Grosso convive com a poluição por agrotóxicos que provoca doenças e danos ambientais como ocorre na poluição da bacia do Amazonas e do Araguaia, semelhante àquela constatada no Pantanal. Os pesquisadores denunciaram ainda que lideranças sociais, sindicalistas e pesquisadores foram e são “pressionados” por gestores públicos e pelo agronegócio para recuarem com as denúncias e ações no Ministério Público. Além disso, sugeriram um conjunto de medidas urgentes em defesa da saúde da população e do meio ambiente: proibição das pulverizações por avião; proibição do uso no Brasil dos agrotóxicos proibidos na União Europeia; fim dos subsídios a esses venenos; implantação nos municípios dos serviços de vigilância à saúde dos trabalhadores, do ambiente, dos alimentos e dos expostos aos agrotóxicos; implementar a transição para o modelo Agroecológico de agricultura e do Desenvolvimento Sustentável de Vida.

As pesquisas desenvolvidas na UFMT serviram de base também para o movimento popular que denunciou a “chuva” de agrotóxicos que ocorreu sobre a zona urbana de Lucas do Rio Verde. Em 2006 quando os fazendeiros dessecavam soja transgênica para a colheita, utilizando paraquat em pulverizações aéreas, uma nuvem tóxica foi levada pelo vento para a cidade e acabou dessecando milhares de plantas ornamentais, canteiros de plantas medicinais e de hortaliças. Além disso, essa nuvem de veneno provocou um surto de intoxicações agudas em crianças e idosos.

As pesquisas de Wanderley Pignati, em parceria com a Fiocruz, serviram como base do documentário “Nuvens de Veneno” (na íntegra, acima), que retrata a realidade vivida pela população que vive no interior do Mato Grosso. O documentário exige algumas das conclusões desse estudo e mostra como a aplicação de agrotóxicos por via aérea ou terrestre atinge, não só as lavouras, mas também casas, escolas e fontes de água que são utilizadas depois para abastecer a população. Para Pignati, os números obtidos neste estudo mostram que o uso dos agrotóxicos na cadeia produtiva do agronegócio contamina a lavoura, o produto, o ambiente, os trabalhadores rurais e a população do entorno. O professor da UFMT segue pesquisando esse tema e está envolvido agora em dois grandes projetos: um que está analisando a presença de resíduos de agrotóxicos nas nascentes do rio Xingú, e outro que investiga a contaminação por agrotóxicos na Chapada de Parecis. A partir destas pesquisas, ficará mais difícil decisões judiciais alegarem ausência de pesquisas e de comprovação científica para embasar posições liberando o uso de agrotóxicos.

OBS DO AUTOR DO BLOG: Notem que uma das principais causas de leucemia é a exposição a produtos quimicos e ou agrotóxicos, imaginem uma mãe portadora do HTLV e ainda exposta a esses dois "agentes" qual será a chance do filho NÃO desenvolver alguma das doenças associadas ao HTLV ao longo da vida?????





Contato: Carlos Soares 51 999.76.2483 – Email: htlv.pet.rs@gmail.com

terça-feira, 11 de abril de 2017

CURSO PARA GESTANTES EM FLORIANÓPOLIS/SC


 
CURSO PARA GESTANTES EM FLORIANÓPOLIS/SC

DATA 06/05/2017 E 20/05/2017

LOCAL: SHOPPING TRINDADE

HORÁRIO: 9H ÀS 12H  E DAS 14H ÀS 17H
 
INFORMAÇÕES PELO EMAIL: rosanebal@gmail.com

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E O HTLV - PARTE V



On-line version ISSN 1806-4841

An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2008

EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA

 

Dermatoses e leucemia/linfoma de células T do adulto (ATL)

A ATL é forma grave de leucemia/linfoma relacionada ao HTLV-1, tem prognóstico reservado e não responde bem aos tratamentos quimioterápicos convencionais. 33 Em sua gênese a proteína Tax tem papel determinante.7 A estrutura genômica do HTLV-1 tem região denominada pX, que faz a codificação para proteínas essenciais (Tax e Rex) e acessórias (p12, p13, p30), participantes da regulação da replicação viral e proliferação de células infectadas.7, 34 A proteína Tax é conhecida por seu efeito marcante na proliferação celular, através da ativação de fatores da transcrição celular, como NFkB, AP-1, CREB e SRF, e ainda por sua capacidade de inibir a atividade funcional de fatores supressores de tumores como o p53, Rb e hDLG.34 Sua ligação direta com as quinases ciclino-dependentes e MAD1 leva à instabilidade cromossômica e desregulação do ciclo celular. Como resultado inibe a apoptose e leva à proliferação celular que resulta na transformação maligna das células.7, 34

As manifestações cutâneas na ATL devem ser diferenciadas de várias dermatoses, de acordo com os tipos de lesões elementares predominantes. O diagnóstico diferencial com a micose fungóide (MF) e outros linfomas cutâneos (LC) sempre deve ser feito, e os critérios para isso são bem definidos.35 Entretanto, existem controvérsias sobre a relação dessas entidades.36 Embora vários estudos tenham demonstrado positividade para Tax, tanto em pacientes com LC como em familiares, outros autores não reproduzem resultados semelhantes, incluindo estudos de vários tipos de LC.36-43 Recentemente, soropositividade para anticorpos contra gag e env do HTLV-1 foi descrita em 52% de um grupo de pacientes estudados, com diagnóstico de MF.36 Entretanto, o material genético do vírus foi encontrado na pele de apenas dois pacientes. Diferenças nos testes diagnósticos e baixo número de cópias são aventados como possíveis explicações.36

O país com maior número de casos conhecidos de ATL é o Japão, embora essa leucemia tenha sido descrita nas demais áreas endêmicas para o HTLV-1.6 Sua real incidência é desconhecida no Brasil44 e possivelmente em outras regiões, devido a fatores tais como seu curso rápido, dificuldade para diferenciá-la de outras doenças, desconhecimento por parte dos profissionais da saúde e carência de recursos para utilização de técnicas necessárias para seu diagnóstico correto em regiões menos desenvolvidas.6

No Brasil, ATL é freqüentemente diagnosticada entre as doenças linfoproliferativas em vários estados brasileiros.45,46 Trata-se de linfoma de células T periféricas, e a pele é freqüentemente comprometida.47 Embora não seja obrigatório, o comprometimento da pele ocorre em percentuais variáveis segundo o tipo de manifestação da ATL.48 O comprometimento cutâneo ocorre entre 43 e 72%,47 tendo variado de 30 a 73% em série brasileira.48

Estima-se que, dos infectados pelo HTLV-1, apenas de um a 5% desenvolvem ATL. O tipo de doença associada ao HTLV-1 possivelmente depende de fatores genéticos do hospedeiro, incluindo os haplótipos do HLA que determinariam a suscetibilidade à infecção, a diferença das respostas específicas da células T e a carga proviral, e de fatores ambientais (modo de transmissão, dose do inóculo viral, idade, outras infecções).6, 34, 49 Admite-se que a transmissão vertical, principalmente pelo aleitamento materno, esteja relacionada ao risco futuro para desenvolvimento da ATL.6 Estudo brasileiro mostrou também a importância do aleitamento por amas-de-leite na transmissão do HTLV-1 e no desenvolvimento de ATL em agrupamentos familiares de pacientes diagnosticados com ATL.46 Casos de ATL pós-tranfusionais são raros.33 Trata-se de doença que ocorre na idade adulta, embora existam casos descritos na infância e adolescência. 26, 31, 50 Admite-se que a infecção crônica e recorrente por Strongyloides stercoralis observada em muitos indivíduos infectados pelo HTLV-1 poderia levar à expansão clonal de linfócitos e ao aparecimento da ATL.51 Em crianças com diagnóstico de DI, a estrongiloidíase associada e a própria DI poderiam ser fatores relacionados ao aparecimento da ATL.25, 26 Em adultos a história de eczema crônico na infância foi descrita52 assim como quadro clínico indistinguível da DI em paciente com a forma indolente da ATL.21 A idade média da manifestação da doença no Brasil e Jamaica é cerca de 10 anos, inferior àquela observada no Japão, que se situa ao redor dos 60 anos.26, 33, 44 Diferenças na apresentação clínica também são descritas, e as razões para tal são desconhecidas, admitindo-se que fatores ligados à patogênese possam estar implicados.6, 33

As células da ATL expressam fenótipo T CD3+ CD4+ e CD8-, são CD25 positivas e induzem imunossupressão, características de células T reguladoras (Treg). Expressam vários genes de células Treg entre os quais o FoxP3 em mais de 50% dos pacientes com ATL.34, 47 A expressão de receptores para quimiocinas e moléculas de adesão mostra diferenças nas lesões cutâneas e nos infiltrados de células tumorais em órgãos linfóides, sugerindo que a expressão dessas moléculas tenha papel fundamental na definição do órgão-alvo em cada tipo de ATL.34

As manifestações cutâneas podem ser decorrentes da infiltração cutânea pela neoplasia ou de alterações inflamatórias reativas à ATL. Como se observa em outras doenças linfoproliferativas, na infecção pelo vírus da imunodeficiência humana adquirida ou mesmo na hanseníase virchowiana, o prurido, a xerose e a ictiose adquirida podem ser sinais ou sintomas prodrômicos e nesse contexto devem ser valorizados.17, 19, 35 Dermatoses relacionadas à imunossupressão, tais como a escabiose crostosa, herpes-zóster disseminado e infecções fúngicas atípicas, são descritas.17, 53, 54

Os critérios para o diagnóstico da ATL podem assim ser sumarizados: presença de anticorpos anti- HTLV-1, prova da integração monoclonal de segmento proviral do HTLV-1 em células tumorais, prova histológica ou citológica da presença de células malignas linfóides com antígenos de superfície da linhagem T (CD2, CD3 CD4+) e CD25+, presença de linfócitos anormais no sangue periférico (células com núcleos convolutos ou flower cells – exceção para o subtipo linfoma – e linfócitos pequenos com núcleos lobulados). 33 Outras manifestações clínicas e laboratoriais, como as lesões de pele e hipercalcemia, são pontuadas em critérios de probabilidade do diagnóstico.55 O espectro da ATL engloba os tipos agudo, linfoma, crônico, smouldering (indolente). A forma aguda predomina, enquanto as formas crônicas e cutâneas primárias seriam mais observadas no Japão em função do seu reconhecimento e diagnóstico mais precoces.6

O quadro clínico é polimorfo, e, diferente dos outros linfomas de células T não relacionados ao HTLV-1 que podem comprometer unicamente a pele, na ATL as lesões cutâneas são freqüentemente associadas ao comprometimento de órgãos internos,48 exceção para a forma cutânea primária associada ao HTLV-1.47

Na forma subaguda, indolente ou pré-leucêmica (smouldering) as lesões de pele geralmente constituem a primeira manifestação clínica, e podem preceder por meses ou anos a fase leucêmica aguda. As lesões podem assemelhar-se àquelas observadas na MF56 e em outras formas da ATL, mas freqüentemente são inespecíficas e respondem ao corticóide tópico.48 No Brasil, lesões cutâneas foram encontradas em 67% dos casos; 48 na forma aguda, foram descritas em 60% dos casos,48 com predominância de lesões papulosas e nodulares.17 A forma crônica foi a que teve maior percentual de casos com lesões de pele (73%) na casuística brasileira.48 O quadro clínico é arrastado, tem semelhança com a MF, e nele podem ser observadas placas eritêmato-edematosas e eritrodermia.17, 56

A forma caracterizada como linfoma foi a que teve menor percentual de comprometimento cutâneo (30%);48 entretanto, é a que tem manifestações mais exuberantes, com lesões extensas do tipo placas que tendem a se infiltrar formando nódulos e tumorações, além da presença de eritrodermia.17 Lesões purpúricas cujo mecanismo é desconhecido, mas não relacionadas à trombocitopenia, já foram descritas em oito pacientes no Japão.57 Em um caso relatado, os autores admitem que as lesões sejam específicas da ATL.57

A morfologia da lesão cutânea na ATL pode guardar relação com o aspecto da histologia e também com o prognóstico.47 Yamaguchi e colaboradores58 encontraram tempo médio de sobrevida de nove meses para pacientes com lesões nodulares, 11 meses para aqueles com pápulas e 32 meses para os que tinham eritema. O exame histopatológico da pele dos pacientes com ATL pode ser indistinguível da MF, mostrando densos infiltrados de células pleomórficas (linfócitos atípicos), que ocupam a derme e podem chegar ao subcutâneo. O infiltrado, que pode ser superficial ou mais difuso, consiste de células T de tamanho médio ou grande, exibindo núcleos pleomórficos ou polilobulados com epidermotropismo marcante. Na forma indolente observa-se infiltrado dérmico esparso com células mostrando poucas atipias.56 O padrão de linfoma de célula T periférica predomina, mas não é exclusivo, sendo descritos outros padrões.59
O prognóstico depende da variante clínica da ATL. Nas formas agudas e linfomatosas a sobrevida média varia de duas semanas a mais de um ano. Nas formas crônicas e indolentes o curso é mais protraído, sendo a sobrevida mais longa. No entanto, pode ocorrer a transformação para a forma aguda, com curso agressivo. Causas de óbito na ATL incluem as infecções como pneumonia por Pneumocystis jirovecii, herpes-zóster disseminado, meningite criptocócica, além de hipercalcemia e coagulação intravascular disseminada. 33,5

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quinta-feira, 6 de abril de 2017

CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE DAS MULHERES DE PORTO ALEGRE/RS


CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE

DAS

MULHERES
 
     DE PORTO ALEGRE/RS–2017

 

 

LOCAL: SALÃO DE ATOS DA UFRGS - AV PAULO DA GAMA,110

DATA: 07/05/2017 (DOMINGO)

HORÁRIO: 08h e 30min às 17h

 

OBS: AS CONFERÊNCIAS LIVRES DE CADA REGIÃO JÁ ESTÃO ACONTECENDO

 

INFORMAÇÕES: 51 3289.2848 ou 51 3228.0203
Email: cms@sms.prefpoa.com.br

terça-feira, 4 de abril de 2017

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E O HTLV - PARTE IV



On-line version ISSN 1806-4841

An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2008

EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS

Lesões e doenças dermatológicas têm sido observadas no curso da infecção pelo HTLV-1 desde que se estabeleceu a relação desse retrovírus com ATL e com HAM/ TSP.17 A ocorrência de dermatoses em indivíduos infectados pelo HTLV-1 sem doença relacionada (ATL e HAM /TSP) foi descrita.18

Embora várias classificações já tenham sido propostas para o entendimento das manifestações cutâneas, nenhuma delas pode ser considerada definitiva. Muitos aspectos de alterações dermatológicas possivelmente relacionadas ao HTLV-1 não estão esclarecidos, e muitas delas carecem de evidências para ser definitivamente associadas à infecção.6,17 Algumas proposições para seu entendimento já foram feitas. La Grenade19 as divide em três grupos: lesões relacionadas às doenças causadas pelo HTLV-1, lesões relacionadas à imunossupressão e lesões inespecíficas. Nobre e colaboradores17 propõem classificação que considera possíveis mecanismos envolvidos em sua patogênese. Assim seriam: lesões diretamente causadas por células infectadas pelo HTLV-1 na pele (neoplásicas e não neoplásicas); lesões indiretamente causadas por células infectadas pelo HTLV-1 na pele (esse grupo inclui além das alterações por imunossupressão e por alterações neurológicas, lesões por produção de citocinas e aquelas por outros mecanismos indiretos) e lesões inespecíficas.

Neste artigo os autores destacam a dermatite infecciosa, cuja relação com o HTLV-1 está estabelecida, e discutem as demais dermatoses, relacionando-as com os quadros de doença (ATL, HAM/TSP) ou infecção assintomática pelo HTLV-1.

DERMATITE INFECCIOSA

A DI foi descrita na Jamaica por Sweet em 196620 e foi definitivamente associada à infecção pelo HTLV-1 em 1990 por La Grenade e colaboradores.5 É doença da infância que se manifesta geralmente depois dos 18 meses, embora haja relato em lactentes mais jovens.21,22 Recentemente foram descritos os primeiros casos com início na vida adulta.23 A maior parte dos casos ocorre na Jamaica,24 no Brasil e, em menor número, no Peru, Senegal e em Trinidad e Tobago.25, 26 No Japão, país com elevada prevalência da infecção pelo HTLV-1, foram relatados poucos casos da DI. Fatores genéticos ou socioeconômicos poderiam ser responsáveis por essa observação.6, 26 No Brasil, o primeiro caso foi relatado no Rio de Janeiro,27 mas a maior casuística é proveniente de Salvador, na Bahia.25

A manifestação clínica é de dermatite eczematosa que compromete o couro cabeludo, pescoço, orelha externa (especialmente as áreas retroauriculares), axilas e virilhas.26 A localização nas fossas antecubitais e poplíteas foi descrita.25 Lesões eritêmato-descamativas ao redor das narinas, associadas à presença de descarga nasal fluida e crostas nas fossas nasais anteriores são descritas. O achado de blefaroconjuntivite é freqüente. Pápulas foliculares, lesões eritêmato-descamativas e pústulas podem ser observadas nas áreas comprometidas. 22,26 As culturas obtidas de material das fossas nasais anteriores ou pele são positivas para Staphylococcus aureus e/ou estreptococos β hemolíticos. 25 Em sua evolução são características a resposta rápida aos antibióticos e a recidiva quando de sua suspensão. Entretanto, foram observadas recidivas esporádicas e desaparecimento do quadro em alguns pacientes durante seu acompanhamento.25

Os critérios para o diagnóstico dessa afecção foram estabelecidos por La Grenade e colaboradores em 199824 (Quadro 1).

O diagnóstico diferencial com outros eczemas deve ser feito, especialmente com a dermatite atópica (DA) e dermatite seborréica (DS) (Figura 1). A DA pode ocorrer em crianças soropositivas para o HTLV-1, e a DS já foi descrita em adultos e crianças infectados pelo HTLV-1 18, 28 (Figura 2). As lesões da DI têm morfologia e distribuição semelhantes àquelas da DA, mas são mais exuberantes, exsudativas e fétidas, além de mostrar infecção evidente. Crostas nas narinas, fissuras retroauriculares e blefaroconjuntivite são encontradas na DI, e o prurido na DA tende a ser mais intenso. 25 A DS mostra lesões com morfologia diferente da DI, além de ser rara na infância, a não ser na forma transitória do lactente.25 A boa resposta à sulfametoxazol- trimetoprim na DI é outro ponto para diferenciá-la da DA e da DS.25, 26 O uso prolongado e repetido dessa medicação é recomendado para o controle da DI.25 O exame histopatológico exibe alterações vistas em outros eczemas, embora elementos sugestivos de micose fungóide em placas possam ser encontrados em alguns casos.29 Estudo de imuno-histoquímica revelou predominância de CD8+ na pele e pequeno percentual de células com grânulos citotóxicos, sugerindo que a maior parte dos linfócitos CD8+ não é ativada, diferente do que ocorre na DA e na DS.29
 
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