Anais
Brasileiros de Dermatologia – PARTE II
On-line version ISSN 1806-4841
An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio
de Janeiro Sept./Oct. 2008
EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA
EPIDEMIOLOGIA
A presença do HTLV-1 está bem estabelecida em regiões do Japão, Caribe,
América do Sul e África, com prevalência muito variável entre elas. Embora não
se conheça o número exato, estima-se entre 15 e 20 milhões de infectados no mundo.6
Admite-se que o Brasil possa ter o maior número
absoluto de casos de infecção pelo HTLV (cerca de 2,5 milhões), considerando
população e taxas de prevalência detectadas.9,10 Contudo, considera-se que sua distribuição seja heterogênea; estudo de
triagem em candidatos à doação de sangue mostrou prevalência maior no Nordeste,
Norte e Sudeste. As taxas variaram de 0,4/1.000 em Florianópolis a 10/1.000 em
São Luís.10
A variabilidade da seqüência do HTLV-1 intra e inter-individual é baixa,
e acredita-se que isso seja decorrente de sua maneira de disseminação, que se
dá mais à custa da transmissão do provírus nos linfócitos infectados do que por
meio de partículas virais, como ocorre com o vírus da imunodeficiência humana
(HIV).11 Após breve período de replicação mediada pela enzima
transcriptase reversa no início da infecção, o aumento da carga proviral se dá
por expansão clonal de linfócitos infectados e, muito menos, pela produção de
virions.7,11
Os vários subtipos do HTLV-1 são descritos de acordo com as diferenças
da seqüência do DNA proviral do gene env e da região LTR (long terminal
repeat).1 Os subtipos do HTLV-1 incluem o A, chamado
cosmopolita, descrito no Japão e na maior parte das áreas endêmicas do mundo, o
B, D e F da África Central, o E da África do Sul e Central, e o C da Melanésia.
As seqüências do HTLV-1 podem ser comparadas àquelas do vírus de células T do
símio (STLV-I), encontrada em primatas. A semelhança das seqüências do vírus de
primatas com as observadas em humanos sugere a possibilidade de ocorrência de
infecção do símio para o homem e vice-versa, e a possível origem do HTLV-1 na
África.12
As formas de transmissão são bem conhecidas, embora existam lacunas no
conhecimento das taxas de transmissão e a respeito de fatores promotores ou inibidores
de algumas vias de transmissão.6,13 Vários comportamentos e tipos de
exposição são relacionados à soropositividade para o HTLV-1 correspondendo às
formas de transmissão conhecidas: mãe-filho, especialmente pela amamentação;
via relação sexual; e via parenteral, pela transfusão de componentes de sangue
infectado ou compartilhamento de agulhas entre usuários de drogas endovenosas.
As áreas endêmicas em regiões tropicais e subtropicais, a infecção em
aglomerados familiares ou vizinhos e o declínio da soropositividade em meio a
imigrantes de áreas endêmicas para não endêmicas sugerem co-fatores biológicos
ou comportamentais influenciando a transmissão do HTLV-1.6, 14 A
transmissão por via endovenosa é a mais eficiente, ocorrendo soroconversão em
40-60% dos expostos ao sangue contaminado, especialmente sangue total e seus
componentes celulares, como concentrado de hemácias e plaquetas. A
soroconversão se dá, em média, entre 51 e 65 dias após exposição.15
A adoção da triagem em bancos de sangue em vários países reduziu o número de
novas infecções na população em geral.7 A transmissão
materno-infantil ocorre em 20-36% dos expostos e parece estar relacionada à
carga materna proviral, altos títulos de anticorpos e tempo de aleitamento
prolongado. A transmissão sexual, como em outras infecções sexualmente
transmitidas, relaciona-se com sexo sem proteção, múltiplos parceiros, úlceras
genitais e sexo pago. A maior parte dos estudos transversais sugere maior eficiência
da transmissão na direção homem-mulher.6 O compartilhamento de
agulhas contaminadas entre usuários de drogas endovenosas é outra forma
importante de transmissão.6,14
Em áreas endêmicas ou não, as taxas de soroprevalência são fortemente
dependentes de idade e sexo, aumentando com a idade e predominando no sexo
feminino. Várias explicações surgem para o efeito da idade: aumento da
soroconversão ao longo da vida, efeito idade na coorte pela redução do número
de novas infecções e possível soroconversão tardia. Na mulher, fatores
hormonais ou maior eficiência da transmissão homem-mulher poderiam explicar a
maior soroprevalência.6 Pode-se supor que fatores ligados ao
comportamento das populações, como prática de sexo sem proteção ou amamentação
prolongada, tenham interferência na prevalência da infecção. O padrão de
distribuição por sexo e idade se mantém em países ou regiões com situações
epidemiológicas completamente diferentes.6
Contato: Carlos
Soares 51 999.76.2483(vivo) – Email:
htlv.pet.rs@gmail.com
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