quarta-feira, 15 de março de 2017

MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E O HTLV - PARTE II



On-line version ISSN 1806-4841

An. Bras. Dermatol. vol.83 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2008

EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA

EPIDEMIOLOGIA

A presença do HTLV-1 está bem estabelecida em regiões do Japão, Caribe, América do Sul e África, com prevalência muito variável entre elas. Embora não se conheça o número exato, estima-se entre 15 e 20 milhões de infectados no mundo.6 Admite-se que o Brasil possa ter o maior número absoluto de casos de infecção pelo HTLV (cerca de 2,5 milhões), considerando população e taxas de prevalência detectadas.9,10 Contudo, considera-se que sua distribuição seja heterogênea; estudo de triagem em candidatos à doação de sangue mostrou prevalência maior no Nordeste, Norte e Sudeste. As taxas variaram de 0,4/1.000 em Florianópolis a 10/1.000 em São Luís.10

A variabilidade da seqüência do HTLV-1 intra e inter-individual é baixa, e acredita-se que isso seja decorrente de sua maneira de disseminação, que se dá mais à custa da transmissão do provírus nos linfócitos infectados do que por meio de partículas virais, como ocorre com o vírus da imunodeficiência humana (HIV).11 Após breve período de replicação mediada pela enzima transcriptase reversa no início da infecção, o aumento da carga proviral se dá por expansão clonal de linfócitos infectados e, muito menos, pela produção de virions.7,11

Os vários subtipos do HTLV-1 são descritos de acordo com as diferenças da seqüência do DNA proviral do gene env e da região LTR (long terminal repeat).1 Os subtipos do HTLV-1 incluem o A, chamado cosmopolita, descrito no Japão e na maior parte das áreas endêmicas do mundo, o B, D e F da África Central, o E da África do Sul e Central, e o C da Melanésia. As seqüências do HTLV-1 podem ser comparadas àquelas do vírus de células T do símio (STLV-I), encontrada em primatas. A semelhança das seqüências do vírus de primatas com as observadas em humanos sugere a possibilidade de ocorrência de infecção do símio para o homem e vice-versa, e a possível origem do HTLV-1 na África.12

As formas de transmissão são bem conhecidas, embora existam lacunas no conhecimento das taxas de transmissão e a respeito de fatores promotores ou inibidores de algumas vias de transmissão.6,13 Vários comportamentos e tipos de exposição são relacionados à soropositividade para o HTLV-1 correspondendo às formas de transmissão conhecidas: mãe-filho, especialmente pela amamentação; via relação sexual; e via parenteral, pela transfusão de componentes de sangue infectado ou compartilhamento de agulhas entre usuários de drogas endovenosas. As áreas endêmicas em regiões tropicais e subtropicais, a infecção em aglomerados familiares ou vizinhos e o declínio da soropositividade em meio a imigrantes de áreas endêmicas para não endêmicas sugerem co-fatores biológicos ou comportamentais influenciando a transmissão do HTLV-1.6, 14 A transmissão por via endovenosa é a mais eficiente, ocorrendo soroconversão em 40-60% dos expostos ao sangue contaminado, especialmente sangue total e seus componentes celulares, como concentrado de hemácias e plaquetas. A soroconversão se dá, em média, entre 51 e 65 dias após exposição.15 A adoção da triagem em bancos de sangue em vários países reduziu o número de novas infecções na população em geral.7 A transmissão materno-infantil ocorre em 20-36% dos expostos e parece estar relacionada à carga materna proviral, altos títulos de anticorpos e tempo de aleitamento prolongado. A transmissão sexual, como em outras infecções sexualmente transmitidas, relaciona-se com sexo sem proteção, múltiplos parceiros, úlceras genitais e sexo pago. A maior parte dos estudos transversais sugere maior eficiência da transmissão na direção homem-mulher.6 O compartilhamento de agulhas contaminadas entre usuários de drogas endovenosas é outra forma importante de transmissão.6,14

Em áreas endêmicas ou não, as taxas de soroprevalência são fortemente dependentes de idade e sexo, aumentando com a idade e predominando no sexo feminino. Várias explicações surgem para o efeito da idade: aumento da soroconversão ao longo da vida, efeito idade na coorte pela redução do número de novas infecções e possível soroconversão tardia. Na mulher, fatores hormonais ou maior eficiência da transmissão homem-mulher poderiam explicar a maior soroprevalência.6 Pode-se supor que fatores ligados ao comportamento das populações, como prática de sexo sem proteção ou amamentação prolongada, tenham interferência na prevalência da infecção. O padrão de distribuição por sexo e idade se mantém em países ou regiões com situações epidemiológicas completamente diferentes.6
Contato: Carlos Soares 51 999.76.2483(vivo) – Email: htlv.pet.rs@gmail.com

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