quinta-feira, 2 de novembro de 2017

ODONTOLOGIA E O HTLV


Doenças bem diferentes – como disfunções urinárias e erétil, artropatias (dores nas articulações) e doença periodontal crônica (que provoca sangramentos nas gengivas e perda óssea bucal)podem ter, em certos casos, uma causa comum: o HTLV-1, um vírus da mesma família do HIV que ataca um tipo de célula fundamental do sistema imunológico (o sistema de defesa do corpo humano), a chamada “célula T”. A descoberta da relação entre o vírus e essas doenças é um dos principais resultados do trabalho que vem sendo realizado desde 2008 pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Doenças Tropicais – o INCT-DT, coordenado pelo professor Edgar Marcelino, da UFBA, que envolve 14 pesquisadores das universidades federais da Bahia, Minas Gerais (UFMG) e Rio Grande do Norte (UFRN), e da estadual de São Paulo (USP). 

Essa descoberta é importante porque o HTLV-1 (um dos dois tipos do vírus linfotrópico da célula T humana, na tradução da sigla em inglês), isolado em 1980, era identificado como causador de apenas duas doenças: a leucemia (um tipo de câncer que ataca os leucócitos) e a mielopatia (doença que causa paralisia dos membros inferiores) – que só ocorrem em cerca de 5% dos casos de infecção pelo vírus. Através da comparação entre os sintomas de pessoas portadoras do vírus, mas que não haviam desenvolvido leucemia ou mielopatia, com o perfil de não infectados, os pesquisadores do INCT-DT observaram que mais de 50% dos infectados manifestavam disfunções urinárias ou erétil, artropatia, doença periodontal e secura nos olhos e na boca (a chamada síndrome seca). Ou seja: o HTLV-1 é muito mais perigoso do que se imaginava. 

“Como só estava associado a duas doenças, e restrito a 5% dos casos de infectados, o HTLV-1 era considerado um vírus de ‘baixa morbidade’ [com baixo potencial de provocar doenças]. Por isso, tem sido um vírus negligenciado, tanto que, mesmo tendo sido descoberto antes do HIV, ainda não possui nem cura, nem tem o arsenal de medicamentos para tratamento que o HIV já tem”, explica Marcelino. Para o pesquisador, embora ainda se esteja longe de chegar a uma cura da infecção, a descoberta aponta para a necessidade de intensificar as pesquisas no sentido de identificar drogas capazes de matar o vírus e de moléculas que combatam os sintomas dessas doenças, reduzindo a resposta inflamatória exagerada associada ao HTLV-1. 

Dois artigos científicos publicados em periódicos internacionais por pesquisadores do INCT-DT apontam essa necessidade
1) “Schistosoma Antigens Downmodulate the in vitro Inflamatory Response in Individuals Infected with Human T Cell Lymphotropic Virus Type 1” [Antígenos de Xistosoma reduzem a resposta inflamatória em indivíduos infectados com HTLV-1], na revista Neuro Imuno Modulation, em junho de 2013; e 
2) “Neurological Manifestations in Human T-Cell Lymphotropic Virus Type 1 (HTLV-1)” [Manifestações neurológicas em portadores de HTLV-1], na revista Clinical Infectious Diseases, em abril de 2015. 

Segundo Marcelino, Salvador é, entre as capitais brasileira, a que apresenta maior número de infectados pelo HTLV-1. O acompanhamento de pacientes portadores do vírus é realizado no ambulatório multidisciplinar do Hospital Universitário Edgard Santos (o Hupes, Hospital das Clínicas) em Salvador – atualmente, cerca de 600 pessoas infectadas pelo vírus são atendidas e monitoradas pela equipe do professor Marcelino. 

Fonte: http://www.edgardigital.ufba.br/?p=1727 

Contato: Carlos - E-mail: htlv.pet.rs@gmail.com



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